quinta-feira, abril 21, 2005

Utopia de Fernando

Seguindo o conselho de Morgaine no último post, fui assistir à palestra sobre a visão de Fernando Pessoa sobre a Utopia. O resultado foi um 'piscar de olho' da temática que me cativou.

Utopia não é uma descrição imaginativa da sociedade, isso será para mim a definição de democracia; não são os sonhos por realizar, isso será para mim a definição de fantasia; não são ideais políticos ou económicos, nem filosóficos ou religiosos. Ficam aqui umas ideias que retive da tertúlia..

Se buscarmos a origem etimológica da palavra utopia poderemos mudar a nossa concepção sobre o seu real significado. Utopia é uma palavra de origem grega. · "u" – prefixo, que representa o que falta; · "topia" – lugar. Utopia: "o que está faltando no lugar de alguma coisa".
"Eu não sou nada na matéria"

Fernando Pessoa via a Utopia como uma evoluição do 'ter' para o 'ser', em que o simbólico se sobrepõe ao real. Os mitos do Velho do Restelo, S. Sebastião e Cabo Bojador são um bom exemplo em como a esperança é o portal para entrar na utopia.
"O mito é o nada que é tudo"
Utopia não é um projecto, é um regresso à lembrança
"Quem quer passar além do cabo Bojador, tem de passar além da dor"

A intuição e o paradoxo 'guiam-nos', abrindo o caminho por entre o nevoeiro (metáfora à vida, por vezes pouco óbvia e com barreiras que surgem do nada)
"O caminho é pelo meio do nevoeiro ao encontro do Sol"
"O nevoeiro intenso é ofuscante como o Sol, por isso falamos dele e não do Sol"

A Utopia não é o impossível, não é um futuro, é o agora, é o que está connosco..
"Ó Portugal, hoje és nevoeiro... É a Hora!"